As mudanças ocorridas no paradigma da assistência de enfermagem em terapias integrativas e complementares favorecem o surgimento de novas formas de ver e abordar o indivíduo com necessidades de terapias.

 A Logoterapia constitui uma dessas formas.

Por isso dispensamos atenção especial à sua utilização, trazendo uma análise da prática de enfermagem em terapias integrativas e complementares mostrando como a logoterapia pode ser aplicada pelo enfermeiro. 

A Logoterapia é conhecida como a 3ª Escola Vienense de Psicoterapia, precedida pela 1ª Escola (Psicanálise Freudiana) e a 2ª Escola (Psicologia Individual Adleriana), tendo como criador Viktor Emil Frankl, neurologista e psiquiatra austríaco, discípulo de Freud e Adler, que rompeu com os dois ao combater suas concepções sobre o homem. Ele o entendia como ser incondicionado, livre para decidir e se responsabilizar por suas escolhas apesar de diversos fatores que as influenciariam. Assim nasce a Logoterapia que significa psicoterapia por meio do sentido da vida, ou a partir do espiritual.Nenhuma outra escola passou pelo duro laboratório dos campos de concentração, onde seu criador pôde avaliar e comprovar suas principais afirmações sobre o homem, vivendo ele mesmo, três anos nos campos de Turklein, Theresienstad, Haufering e Auschuvitz como prisioneiro, sentindo a perda das pessoas mais importantes de sua vida, seus pais, irmãos e sua esposa.

Sua proposta é ampla, pois se aplica a qualquer pessoa, seja ela doente ou sadia, jovem ou velha e nas mais diferentes situações na vida. Pretende favorecer o encontro do indivíduo com uma vida plena de sentido, incluindo aspectos filosófi- cos, biológicos, pedagógicos, psicoterapêuticos, psiquiátricos e espirituais. Está caracterizada como verdadeira síntese que integra o homem e sua missão no mundo.

A Logoterapia é uma forma de psicoterapia que compreende o homem como um ser chamado à liberdade, à responsabilidade pessoal, a dar uma resposta para a vida e a descobrir o sentido que ela tem, mesmo se deparando com sua transitoriedade, o isolamento existencial e a falta do sentido.

Compreendendo o homem como ser além de biológico e psicológico, como espiritual, surgem conflitos morais, éticos ou espirituais que não podem ser confundidos com problemas mentais, mas antes como problema noogênico, palavra derivada do grego nous, que quer dizer do espírito. No uso de sua consciência a pessoa dá expressão a sua liberdade e, por conseguinte, assume uma postura responsável frente à vida. Esta tríade (consciência, liberdade e responsabilidade) é própria da dimensão espiritual não afetada por nenhuma doença.

Portanto, o indivíduo, mesmo afetado em suas outras dimensões, tem sua integridade espiritual assegurada, podendo mesmo nestas condições decidir-se pelo seu sentido único na vida.  

A inter-relação da Logoterapia e a prática de enfermagem em terapias integrativas e complementares é claramente observável na medida em que o enfermeiro favorece a busca e o encontro do sentido da vida e do sofrimento dos seus pacientes e ao realizar tal tarefa ele próprio encontra o sentido de sua vida, por autotranscender-se e insistentemente maximizar sua função terapêutica por ir ao encontro da parte inatingível do ser, o seu espírito.

A tarefa do enfermeiro, portanto, é ajudar o paciente, que não está conseguindo realizar sua existência em plenitude por estar limitado nas suas possibilidades, a compreender sua existência e a buscar o sentido de vida que o leva a encontrar caminhos, com a liberdade de escolher entre as possibilidades. 


Fonte:

Rev. Rene. Fortaleza, v. 9, n. 4, p. 158-164, out./dez.2008